Da vasta mesa patriarcal, em torno,
A família reúne-se. Fumega
O rotundo leitão assado ao forno,
Entre os vinhos velhíssimos da adega.
Loiras batatas traçam-lhe o contorno
Finas rodelas de limão carrega;
E, assim, como todo o culinário adorno,
Aguarda, inerte, a sorte iníqua e cega.
É noite de Natal! Festa! Alegria!
Em cada boca há um riso iluminado
Pelo amor que das almas irradia.
Mas ninguém nota o sorriso resignado
De amarga, pungentíssima ironia
Dos meigos olhos do leitão assado...
Extraído de: TIGRE, Bastos. Poemas. [S.l.]: [s.n.], 2005. p. 112