Não Sílvio, não!
Estás em uma ilha dando aquele sorriso gostoso
Estás cantarolando pros que estão aflitos
Seus cabelos balançam com o vento da ilha
Daquele jeito, como quando reges a orquestra
Teus cabelos são um espetáculo a parte
Tu cumprimentavas com tanta amabilidade quem nem conhecias
Conversava com as senhoras fúteis, achando graça
Falavas com uns eruditos chatos, "aqueles velhas"
Fazias sorrir toda a Sala Villa -Lobos
Falavam de ti, mas nem ligavas
Vinham-te as meninas, pois que venham mais
Tinhas tanto charme...
Mas meu Deus, Sílvio!
Você era homem! E dizem, todo homem é mortal!
E o avião... meu Deus!
Mas não! Não deve ser!
Vou acreditar nos ufólogos, nos evangélicos e nos otimistas...
Eras bom, e o avião caiu sem ti, continuastes no céu.
No avião não, Sílvio.
Aquele seu sorriso não se pode ter perdido,
A lembrança do seu sorriso não foi feita pras lágrimas
Seu sorriso foi feito pra outros risos e pra música...
Mas não Sílvio, eras homem e eras mortal
E o avião caiu...
Dormirei, e teu olhar galanteador ficará aqui, ao lado
Nem Mozart, nem Bach, nem Villa-Lobos, nem Verdi
estão mais vivos Sílvio, mas sua música é cantada e tocada
Seus nomes são falados e ouvidos
Mas o que é um nome se não um nome?
A melhor música que regestes foi teu riso contagiante
E agora ele não é mais que uma lembrança,
que não pode ser imitada pela melhor orquestra
Nem regida pelo melhor maestro
Pois só tu sabias ritmar teu sorriso... e teus cabelos...
E tu caístes...
Meu Deus Sílvio, e nem era só tu...
Quantas almas choram agora?
Mas não, Sílvio, foi só um pesadelo
E acordarás dele da melhor forma: dormindo
Mas deixaste-nos tão triste,
Acordaremos e só veremos aquilo a que chamam realidade
Mas não Sílvio, não tu...
Irei dormir agora
Fala-me num sonho que não eras homem
e nem mortal
E que o avião não caiu...